Achava que muito pior do que ser admirado por quem não nos compreende é ser admirado por aqueles que nos compreendem, mas que nós não admiramos. Uma coisa é a pessoa que se aproxima de nós — na rua, no lançamento de um livro, numa festa — dizendo, por exemplo: “Devorei o seu último romance. Outra coisa é a pessoa nos elogiar por uma ideia que não defendemos, mas que ela acredita ser a tese principal de um dos nossos livros. Finalmente, a tragédia, essa sim, a pior tragédia, aconteceria quando a pessoa nos elogiasse por algo que realmente sempre defendemos, na nossa vida e na nossa obra — e essa pessoa representasse tudo o que mais detestamos. Achei que sim, que, sem me aperceber, talvez eu me estivesse transformando numa abelha.
Source: O Globo January 20, 2024 09:53 UTC