Fechando uma década de profundas transformações sociais no Brasil, em que o combate à corrupção ganhou um protagonismo capaz de alterar estruturalmente o país, mas foi interrompido de maneira abrupta por uma reação do establishment que deve ser encerrada momentaneamente com a cassação do mandato de senador do ex-juiz Sérgio Moro, temos hoje em São Paulo uma das muitas manifestações populares que mobilizaram o país a partir de 2013. Como sempre no Brasil, o retrocesso foi auxiliado por atitudes imprudentes dos que tinham a tarefa de limpar os caminhos da República, incapazes de arcar com o peso histórico e institucional das ações que praticavam. A atuação de Moro na Operação Lava-Jato, no entanto, nada tem a ver com sua condição de senador eleito pelo Paraná, e o julgamento no TRE não deveria ser confundido com sua atuação como juiz. Pode ser o fim de uma década em que o retrocesso político marcou uma evolução abortada, com a inacreditável chegada de Jair Bolsonaro ao poder máximo do país, ou a retomada de um processo que pode nos levar a uma nova fase de descrédito e decadência. Voltamos, depois de um ano de governo petista, a uma situação paradoxal na qual os eleitores de 2022 não tiveram atendidos seus anseios, e não têm alternativa diante do avanço da extrema direita devido aos desvios ideológicos da esquerda, no poder por circunstâncias que nada têm a ver com seus desígnios.
Source: O Globo February 25, 2024 08:28 UTC