O domínio sobre o aparelho em nossas mãos tornou-se ilusório diante da ansiedade crônica: queremos mais e mais deste quase nada com filtro. Alta velocidade gera adrenalina, mas também desespero: a que momento surgirá o muro contra o qual nos chocaremos? Abandonar as redes seria uma opção de livramento, mas um suicídio metafórico: o sujeito desconectado será ainda considerado um ser vivo? Interrompemos a fala dos outros, amamos e odiamos por impulso e não conseguimos assistir a um reels até o fim. E assim, humilhados pela nossa própria inquietação, seguimos fazendo de conta que é possível se tornar mais sábio e atualizado, apenas acelerando o dedo indicador, enquanto reduzimos a zero nossa concentração.
Source: O Globo December 16, 2023 22:16 UTC